Extra Digital

A DOR DE UMA AGRESSÃO É MUITO MAIS QUE FÍSICA

Gabriela Germano gabriela.germano@extra.inf.br

Fama, dinheiro e beleza. Nada disso evitou que Ana Hickmann se tornasse mais uma vítima de agressão. Aconteceu no lugar em que ela deveria se sentir segura, sua casa. Foi praticada por quem deveria lhe estender e não lhe meter a mão, seu marido. Isso numa relação que já durava 25 anos e que parecia bem-sucedida em diversos aspectos. O drama da apresentadora mostra que, definitivamente, ninguém está isento de viver esse pesadelo. E a postura dela de procurar a polícia e denunciá-lo precisa, sim, ser vista como um ato de coragem e de extrema importância para levar a sociedade a parar de minimizar uma realidade que assola tantos lares.

Não quero fazer aqui especulação sobre a vida de um casal. Mesmo porque não sei quais decisões os dois vão tomar para conduzir a relação daqui pra frente. Eu me solidarizo com a dor de Ana Hickmann. A física, mas principalmente a psicológica. Ou vocês imaginam que tenha sido fácil para ela tomar a decisão de ir até uma delegacia e buscar atendimento médico, tornando pública uma situação familiar delicada? É difícil para qualquer pessoa, mas, para alguém com uma carreira midiática — e que, para piorar, mantém com o agressor não só uma relação pessoal, mas também profissional e financeira —, fica ainda mais complexo. O medo de ver tudo desabar. O receio de como será a vida depois...

A vida... Ela pode fazer a gente constatar que se dedica ou que ama uma pessoa capaz de praticar atos terríveis. Um abusador. Um agressor. Me baseio no pouco que acompanhei do relacionamento desse casal. Entre os episódios marcantes, um câncer no pescoço enfrentado por Alexandre, que ficou bastante debilitado, talvez até desacreditado. E Ana esteve ali, presente, parceira de verdade. Era bonito ver uma relação baseada em companheirismo real, porque a gente sabe que hoje muitos relacionamentos são tão frágeis que sucumbem ao primeiro problema, à primeira crise. E desse casamento nasceu um filho, hoje com 9 anos, que carrega o mesmo nome do pai. Segundo o boletim de ocorrência registrado, o menino presenciou o início da discussão, não as agressões.

Só a própria Ana poderá confirmar no futuro, mas imagino que justamente esse filho tenha sido o principal motivo que a levou a tomar a atitude de buscar ajuda. E que bom que ela tem o pequeno Alexandre, “sua força e motivação”. Mas penso que as pessoas — especialmente as mulheres, as maiores vítimas de agressão — precisam se atentar também a isso: o valor que dão para si e para os seus próprios corpos. Mesmo aquelas que não têm um filho para proteger, mesmo aquelas que não têm uma família para blindar precisam cultivar a todo tempo, insistentemente, o amor-próprio. Pra ter sempre em mente que ninguém, nem a pessoa que você mais gosta, tem o direto de fazer com o seu corpo — e com a sua cabeça — algo que te machuca, que te invade, que te marca. A gente pode ter quem cuide da gente. Mas conscientes de que somos as melhores guardiãs de nossos próprios corpos e eles valem muito. A pessoa pode ter dinheiro, vida confortável, estudo e instrução, mas, se não tem clara essa premissa, perde a noção do estrago de um tapa.

Quantas mulheres estão passando agora pelo mesmo sofrimento de Ana Hickmann e não terão seus apelos ouvidos? Ou serão julgadas e não receberão metade do apoio que Ana vem recebendo? Por elas, inclusive, o ato da apresentadora é relevante. Está tudo registrado, ninguém vai dizer que não aconteceu, e todo mundo pode concluir que uma amiga, uma vizinha e até uma parente não mereça enfrentar o mesmo tipo de absurdo.

Por fim, estejamos alertas aos seres grosseiros. Não estou dizendo que toda pessoa grossa é uma agressora. Mas estou dizendo que grosserias não devem ser ignoradas. Em relação a Alexandre Correa, eu já ouvi muita coisa. Mas escrevo sobre o que vi com meus próprios olhos. Num tempo em que o “Hoje em dia”, programa da Record, fazia bastante sucesso, fui acompanhar uma gravação em que

Ana estava presente. Pois na frente de toda a imprensa, o marido e sócio da apresentadora foi extremamente grosseiro com a assessora de comunicação da emissora. Se ele agia daquele jeito sem constrangimento algum na nossa frente, como seria numa sala fechada sem ninguém vendo?

Foi pro bar e o cara destratou o garçom? Já viu ele sendo bruto com funcionários? Sim, senhoras e senhoritas, no mínimo, isso pode indicar um desvio de caráter. Somos dignas de muito mais do que isso.

CAPA

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2023-11-19T08:00:00.0000000Z

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