Extra Digital

‘Minha dor é tão grande que nem consigo sentir revolta’

Desabafo é do pai de uma das três crianças mortas em ataque a creche no Sul

Rodrigo Castro rodrigo.oliveira@infoglobo.com.br

Na manhã da última terça-feira, o eletricista Maurício Massing, de 35 anos, mudou excepcionalmente sua rotina. Em vez de ir para o trabalho de moto, como de costume, decidiu pegar uma carona no carro da mulher, Kerli da Silva, 28, que em seguida deixaria no colégio o filho Murilo, de 1 ano e 9 meses. Assim que chegou à sede da empresa, por volta das 7h15, ele ouviu as últimas palavras do menino: “Tchau, papai”. Murilo é uma das cinco vítimas — três crianças e duas professoras — mortas a facadas no ataque a uma creche em Saudades, no interior de Santa Catarina. O assassino, que tentou o suicídio ainda no local do crime, segue internado sob custódia policial.

— Eu não tenho esse sentimento de revolta. Minha dor é tão grande que nem consigo sentir revolta ainda. O luto pelo Murilo não sai da cabeça — disse Maurício, em entrevista ao EXTRA. — Só lembranças boas do Murilo. A dor é insuportável. Era só alegria. Eu estava olhando vídeos e fotos dele... É inexplicável.

Kerli estava no trabalho, a duas quadras da creche, quando sua irmã a avisou sobre o ocorrido, por volta das 10h20. Fazia dois meses que ela levava Murilo para passar as manhãs na escolinha, após cuidar dele em casa durante um ano e meio. O menino passava as tardes com a avó materna.

— Ele acordou bem cedo naquele manhã. Tomou leite na cama com o irmão e depois veio até a cozinha com as mamadeiras, dizendo “pia, pia”, para que eu as colocasse na pia. Fomos para a escola e, ao chegar, a professora de quem ele mais gostava estava sentada no chão. Veio uma outra pegá-lo, e ele não quis. Só quando a Larissa (professora) se levantou que ele foi. No carro, já vinha falando: “Issa, issa, boi”. Dizia que ia à escola brincar com a Larissa e com o boi. Perguntei se ele queria me entregar o bico (a chupeta), falou que não e disse: “Tchau, mamãe” — contou Kerli.

Quando a mãe de Murilo voltou à creche, havia pessoas correndo, uma gritaria generalizada, viaturas e ambulâncias na rua. Kerli tentou entrar no local, mas foi impedida por um policial. Foi comunicada que as crianças estavam nas casas vizinhas e seguiu atrás do filho, até saber que ele havia sido levado para o hospital.

O PAÍS

pt-br

2021-05-07T07:00:00.0000000Z

2021-05-07T07:00:00.0000000Z

https://extra-globo.pressreader.com/article/281784221965148

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.