Extra Digital

Polícia prende quadrilha dos nudes

Bandidos se passavam por meninas menores de idade para extorquir dinheiro

Arthur Leal arthur.leal@oglobo.com.br

Bandidos se passavam por meninas menores de idade em redes sociais e depois chantageavam as vítimas. Homem se gabou de ganhar mais dinheiro do que com tráfico de drogas.

▶ Primeiro, um falso interesse amoroso ou sexual surge através de uma rede social. “Amor” daqui, “vida” para lá... Depois, a conversa evolui para troca de fotos. De repente, a vítima, sem desconfiar, está envolta numa rede complexa de mentiras estruturada pela quadrilha do chamado golpe do falso nude, baseada nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e que, ontem, foi alvo da Polícia Civil gaúcha. Já são 33 suspeitos O inquérito aponta que a modalidade de extorsão é um importante braço financeiro da principal facção de tráfico de drogas que atua na região.

Os criminosos mapeavam homens potencialmente com poder aquisitivo e, então, se passavam por mulheres muito jovens para atraí-los nas redes sociais. Quando conseguiam, através das conversas de cunho sexual, extrair fotos do alvo nu ou seminu, era tarde demais: ele já estava envolvido no golpe. Tudo começa com a intervenção de um falso pai ou parente da menina anunciando que ela era uma criança e que levaria o caso à polícia, mas que repensaria caso recebesse uma quantia em dinheiro.

Depois, ele pede mais dinheiro para tratar o “trauma” da garota numa clínica psiquiátrica. Em seguida, falsos policiais dão prosseguimento à extorsão oferecendo “acordos de conciliação” entre as partes para que aquilo “morra ali”.

A partir disso, os líderes da quadrilha começavam a realizar uma série de extorsões, passando-se por policiais, promotores ou membros da OAB. Além de documentos, construíram cenários que fingiam ser de uma delegacia.

— O esquema era perfeitamente delineado, com vasto material que auxiliava na ilusão das vítimas — comentou o delegado Rafael Liedtke, da 2ª Delegacia de Repressão ao Narcotráfico, que está à frente do caso.

Em alguns casos, como mostram conversas interceptadas pelos investigadores e obtidas pelo EXTRA, os criminososchegavam a simular que a menina, suposta menor de idade que sequer existia, havia se matado por conta do trauma de ter se relacionado sexualmente por mensagens com a vítima. Eles, então, exigiam pagamento pelas custas do sepultamento.

“Vou ganhar mais uma moeda com a morte amanhã”, disse um membro da quadrilha a outro, vangloriando-se de ter enganado uma vítima.

O inquérito aponta que para a produção do material, os investigados também aliciavam adolescentes, que mandavam fotografias, áudios e vídeos sob remuneração de R$ 100 a R$ 200 e, algumas delas, até mesmo sob ameaças.

Só em uma das extorsões, os criminosos movimentaram R$ 50 mil, como mostra uma das capturas de tela. Há, também, extorsões menores. Uma delas, chama atenção, é contra um homem que aparenta ser humilde. Ele diz ser vendedor de bananas.

A vítima diz: “O meu pagamento vai sair hoje ainda. Eu trabalho com cacho de banana. Ganho R$ 1.300 por mês, e meu patrão está adiantando R$ 500 para mim, para depois que acabar esse negócio eu poder pagar a ele. O que eu combinei com o senhor está combinado. Se eu não pagar hoje, se não der tempo, eu pago na segunda-feira. Obrigado, fica com Deus”.

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2023-05-30T07:00:00.0000000Z

2023-05-30T07:00:00.0000000Z

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