Extra Digital

Desinformação de volta à cena

Bolsonaro e PL repetem fórmula de 2018 ao divulgar mentiras durante campanha

Alice Cravo, Daniel Gullino e Fernanda Trisotto politica@oglobo.com.br

▶ Marca das eleições de 2018, a divulgação de informações falsas ou distorcidas para mobilizar eleitores passou a fazer parte novamente da campanha do presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. Segunda-feira, ao ser entrevistado por cinco horas e meia em um podcast, o presidente mentiu ao menos sete vezes sobre temas como vacina, urnas eletrônicas e resultados econômicos de seu governo. Na semana passada, cartilhas produzidas pelo PL, seu partido, para orientar o discurso de candidatos da sigla continha dados inflados ou incorretos.

Há quatro anos, na campanha em que se elegeu presidente, Bolsonaro chegou a ser obrigado pelo TSE a retirar do ar vídeo em que acusava seu principal adversário da época, o então candidato do PT Fernando Haddad, de produzir o que chamava de “kit gay” para crianças em escolas. O kit, na verdade, era o livro “Aparelho Sexual e Cia.”, que não havia sido produzido pela pasta nem distribuído nas unidades de ensino.

Desta vez, o presidente mudou o alvo, mas também tem repetido informações inverídicas que já lhe custaram a exclusão de vídeos em redes sociais. Ao participar do Flow Pocast, por exemplo, defendeu sua atuação na pandemia, que deixou mais de 680 mil mortos no Brasil. Um dos pontos centrais do discurso de Bolsonaro é a defesa da cloroquina, remédio comprovadamente ineficaz contra a doença.

Na entrevista, o presidente afirmou que o medicamento “funcionou” e que o efeito contra o vírus seria “uma coisa imediata”.

No ano passado, vídeos em que o presidente fazia defesa do remédio foram excluídos pelo YouTube por desrespeitarem regras da rede social sobre fake news na pandemia.

Na entrevista, Bolsonaro também disse também que a apuração de votos brasileiro não seria “pública” porque ocorreria numa “sala cofre” do TSE, o que não é verdade. A apuração de votos de cada urna ocorre de forma automática, após o término da votação, com a impressão de boletim. Assim, é possível conferir o resultado final somando cada boletim. No mês passado, o YouTube removeu uma live de julho de 2021 em que Bolsonaro promoveu desinformação e teorias da conspiração contra as urnas.

O presidente também errou dados econômicos do seu governo. Segundo ele, “passamos de déficit para superávit” nas estatais. Contudo, as estatais já registram lucro desde 2016.

No caso das cartilhas com orientações

FAKE NEWS Em entrevista, presidente fez defesa da cloroquina e ataque a urnas eletrônicas

a candidatos, assinados pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, os textos sugerem aos filiados “explorar cada conquista alcançada com os programas, leis e ações do governo federal”. No tópico sobre programas sociais, o PL afirma que mais que dobrou o número de famílias beneficiadas pelo Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família. O texto afirma que o auxílio beneficiou “39 milhões de famílias”, com valores de R$ 600. Mas o dado real é bem menor: até julho, 18,1 milhões de famílias receberam R$ 400 por mês. O valor extra passou a ser pago só a partir de ontem, a 20,2 milhões de famílias.

Em relação à redução de impostos, a cartilha afirma que o governo realizou o “fim gradual do IOF”, em referência ao Imposto sobre Operações Financeiras. Na realidade, Guedes se comprometeu, em janeiro, a zerar até 2029 a cobrança do imposto sobre transações com o exterior. O governo assinou decreto para a mudança na tributação sobre o câmbio, mas a redução ainda não foi colocada em prática. Hoje, essa taxa é de 6,38%.

Procurado, o PL não se manifestou. O Palácio do Planalto e a campanha do presidente também não.

POLÍCIA

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2022-08-10T07:00:00.0000000Z

2022-08-10T07:00:00.0000000Z

https://extra-globo.pressreader.com/article/281694028553837

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