Extra Digital

Madrasta pesquisou como apagar todos os rastros no WhatsApp

Relatório obtido pelo EXTRA mostra que filhos de acusada de envenenamento dos enteados suspeitavam da mãe. ‘Como a gente não vai desconfiar de você?’, diz a filha em mensagem.

Paolla Serra paolla.serra@infoglobo.com.br

▶ A Polícia Civil do Rio conclui hoje os inquéritos sobre o assasinato de Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, e a tentativa de homicídio contra o irmão dela, Bruno Carvalho Cabral, de 16. Madrasta dos jovens, Cíntia Mariano Dias está sendo indiciada pelos dois crimes.

De acordo com investigações da 33ª DP (Realengo), Cíntia envenenou um sanduíche que serviu para Fernanda em 15 de março e uma porção de feijão que ofereceu a Bruno exatamente um mês depois. Ela teria colocado “chumbinho”, um veneno para ratos, nos alimentos.

Segundo o delegado Flávio Rodrigues, titular da 33ª DP, será pedida à Justiça a prisão preventiva de Cíntia, que está há 47 dias no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, na Zona Norte do Rio, em caráter temporário:

— Ao fim de quase dois meses de investigação, reunimos provas testemunhais e técnicas de que a madrasta envenenou os jovens por ciúme do marido.

Uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) no celular de Cíntia revelou que, na tarde de 27 de abril, foi pesquisado no aparelho o termo “como apagar mensagens de WhatsApp”. O relatório, obtido pelo EXTRA, aponta que, em conversas no aplicativo, parentes da acusada manifestaram preocupação e medo por conta de seu comportamento.

“Bruno veio almoçar e foi envenenado. Uma desgraça está acontecendo aqui”, escreveu Cíntia a um irmão, às 12h03 de 16 de maio, no dia seguinte à internação do rapaz no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. “Mas, como assim, se ele comeu aí?”, respondeu o interlocutor.

Em outra conversa, a filha de Cíntia, Carla Mariano Rodrigues, perguntou: “Mãe, você lembra tudo que passamos na separação de vocês? Como a gente não vai desconfiar de você?”.

Entre as mensagens trocadas, muitos trechos foram apagados do celular, mas acabaram sendo recuperado pela polícia por meio de um software israelense. Em um diálogo, uma amiga da família escreve0u para Cíntia: “Bruninho tá no CTI igual a Fernanda, mesmas coisas, só que ele chegou a ver e contar para tia Jane. Viu coisas azuis no feijão, veneno, disse que a madrasta ficou nervosa, começou a pegar o prato dele, trocar, apagar a luz da cozinha, porque ele sentiu o gosto”.

Cíntia copiou a mensagem da amiga e a enviou para seu filho, Lucas Rodrigues. Em seguida, escreveu alguns textos para ele e apagou. Mas o rapaz respondeu: “Mãe, você tá me acusando, você tá vendo as coisas que tá fazendo? Eu sou seu filho, pelo amor de Deus! Assuma suas responsabilidades. Eu tô ficando com vergonha de te olhar. Eu pedi para você me contar a verdade, cara, você tá acusando as pessoas por coisas que você fez. Acabou, mãe. Acabou. Por favor! Não faça isso. Assuma o que você fez. Eu não tô aguentando isso tudo. Eu tô passando mal”.

Em uma nova conversa, Lucas escreveu para Cíntia: “Eu sei que foi você que fez, foi em algum lugar, alguma coisa aconteceu, é aguardar os exames”.

Anteontem, o laudo complementar da necropsia realizada no corpo de Fernanda, que teve de ser exumado, atestou que a causa de sua morte foi envenenamento. O documento, do Instituto Médico-Legal, não identifica uma substância tóxica, mas cita uma análise do prontuário médico da jovem no Albert Schweitzer, segundo a qual a eliminação de “chumbinho” do organismo é rápida.

Já o laudo de um exame do suco gástrico de Bruno apresentou evidências da presença de veneno. O documento, produzido com base em análise do Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UFRJ, diz que havia pesticidas em quatro grânulos esféricos diminutos.

Por meio de uma nota dos advogados Carlos Augusto dos Santos e Raphael Souza, Cíntia negou que tenha cometido o crime: “Os laudos periciais são atécnicos e extremamente parciais. Com uma simples leitura, percebemos que não foi detectado nenhuma substância tóxica, o que estão fazendo é um malabarismo pericial (...). Ressaltamos que o exame toxicológico da exumação do corpo da Fernanda foi negativo para qualquer substância tóxica. No decorrer da instrução criminal tudo isso será analisado”.

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