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Após 4 séculos, Fundação Romão Duarte fecha

Marcella Sobral e Selma Schmidt granderio@oglobo.com.br

▶ Segunda-feira, 4 de julho, a última criança acolhida pela Fundação Romão Duarte deixou o casarão, na Rua Paulo VI, 60, no Flamengo. Ponto final numa história de cerca de quatro séculos dedicados a amparar menores abandonados no Rio. O pedido de suspensão de novos acolhidos foi feito pela instituição em 18 de novembro de 2020. De acordo com o Tribunal de Justiça, a organização alegou escassez de recursos financeiros, agravados pela pandemia de Covid-19, da Santa Casa de Misericórdia, provedora do lugar.

O imóvel já foi vendido, e um pedido de licença para construção, em nome da Performance Serket Empreendimentos Imobiliários, está sendo analisado por técnicos do município. O projeto prevê dois blocos com apartamentos de até 51 m². A proposta mantém o palácio, que deve ser reformado internamente para abrigar 155 pequenas unidades habitacionais. Ao lado dele, a intenção é erguer outra torre, com cinco andares e 78 apartamentos.

Hoje, a presidente da Associação de Moradores e Amigos do Flamengo, a Leila do Flamengo, encaminhará requerimento à prefeitura solicitando acesso a detalhes do projeto. Leila, que foi vereadora, diz não ser contra o aproveitamento habitacional do palacete, desde que o imóvel seja preservado.

Já no Flamengo — a fundação teve diferentes sedes — , a Romão Duarte teve uma vizinha famosa que retratou o cotidiano do lugar em obra de arte. Em pintura de 1935, Tarsila do Amaral mostra 12 crianças. O quadro é documento histórico do lugar, que acolheu crianças por cerca de quatro séculos.

HISTÓRICO DO LOCAL

Ainda que tivesse capacidade para atender até 20 crianças, desde abril de 2021 só seis estavam acolhidas no local, focado na faixa etária de até 6 anos. O espaço chegou a abrigar 300.

O fechamento da unidade agrava um problema crônico na cidade e que teve um aumento de 30% em relação a 2020, que é o de abandono de crianças. De acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública, 288 menores foram abandonados no Estado ano passado, ou um a cada 30 horas. A população mais afetada é a da faixa etária atendida pela Romão Duarte, de 0 a 6 anos, com um índice de 29,36% de abandono.

Agora, a rede de acolhimento está distribuída entre a Obra do Berço e a Ana Carolina, com capacidade para 20 crianças de até 4 anos, cada; Bia Bedran, que pode acolher 13 menores entre 4 e 8 anos; Lucinha Araujo, que pode receber 20 de 6 a 12 anos; e o Polo Família Acolhedora, com capacidade para 15 menores de até 17 anos.

CIDADE

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2022-07-07T07:00:00.0000000Z

2022-07-07T07:00:00.0000000Z

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