Extra Digital

Testemunha falta e PMs não são ouvidos

‘A defesa está tentando nos cansar e prolongar o caso’, denuncia a mãe da vítima

Giovanni Mourão giovanni.mourao@infoglobo.com.br

▶ “É uma ferida que, mesmo se eu quisesse, não estão me deixando fechá-la”. Foi com esse desabafo que Jaqueline Oliveira deu o tom de sua indignação ao final da primeira audiência da Justiça Militar sobre a morte de sua filha, a designer de interiores, modelo e vendedora Kathlen Romeu. Após quase três horas de audiência, o julgamento dos cinco PMs envolvidos no caso foi adiado para 27 de junho. Uma testemunha de defesa faltou, alegando problemas de saúde, e eles acabaram não sendo ouvidos. Para a família da vítima, isso fez parte de uma estratégia para evitar a prisão dos acusados.

Os PMs são réus pelos crimes de fraude processual (teriam alterado a cena do crime) e falso testemunho. Kathlen tinha 24 anos, estava grávida e morreu após ser atingida por um tiro de fuzil no peito, durante uma incursão policial ao Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, em 8 de junho de 2021. Os acusados afirmam que houve um tiroteio com traficantes, mas uma avó que acompanhava a jovem negou essa versão.

Ontem, o juiz Bruno Vaccari ouviu a mãe, o pai e a avó de Kathlen, além de quatro testemunhas de defesa dos PMs. Jaqueline acredita que a ausência da quinta foi uma manobra para “cansar nossa família e prolongar ainda mais o caso”.

— Só depois que fomos ouvidos e liberados soubemos que uma testemunha não iria. A defesa deles está tentando nos cansar para deslegitimar nossos depoimentos: escutaram o que falamos e vão tentar achar brechas para interpretálas do jeito que lhe for favorável. Mesmo com todas as provas, os PMs ainda estão soltos. E falo de provas que não foram buscadas pelo Estado, mas, sim, por testemunhas, pela família, inclusive um vídeo. Minha filha estava grávida. Além de não poder viver em paz, o jovem da periferia não tem mais o direito de gerar uma vida — lamentou a mãe.

A audiência estava marcada para 11 de abril, mas, por uma falha processual, precisou ser adiada: o sorteio para definir o grupo de juízes considerou que todos os réus eram soldados, porém um deles tem a patente de capitão. Como o colegiado precisa ser formado por militares em posição hierárquica superior às dos réus, o tribunal teve de realizar uma nova escolha.

O pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, também lamentou o novo adiamento:

— No primeiro, tiveram quase cinco meses para identificar o erro. Agora, uma testemunha falta. É impossível não achar isso tudo, no mínimo, estranho. Ainda não conseguimos ter o nosso luto.

Investigações da Polícia Civil apontam que o tiro que matou Kathlen partiu da arma de um dos PMs. Dois agentes, ao prestarem depoimentos na Delegacia de Homicídios da Capital, admitiram que efetuaram disparos. Segundo uma denúncia do Ministério Público do Rio, os quatro praças retiraram cartuchos de balas no local onde a gestante foi atingida, antes da chegada da perícia. Depois, teriam apresentado outros 12, além de um carregador de fuzil, na 26ª DP (Todos os Santos), para simular um confronto.

POLÍCIA

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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