Extra Digital

Policial civil foi jogado ainda vivo no Guandu

Agredido e baleado por militares, policial foi jogado ainda vivo no Rio Guandu

Marcos Nunes, Paolla Serra e Rafael Nascimento de Souza granderio@oglobo.com.br

▶ Depois de ser agredido e baleado três vezes, o perito Renato Couto foi colocado pelos assassinos numa van da Marinha e levado para a Baixada Fluminense. O corpo foi resgatado ontem na altura de Japeri.

▶ Um exame feito pelo Instituto Médico-Legal (IML) no corpo do perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos — sequestrado e baleado por militares da Marinha na última sexta-feira — revelou um detalhe brutal do crime: ele ainda estava vivo quando foi jogado no Rio Guandu, na Baixada Fluminense. O policial civil morreu devido à hemorragia causada por três tiros e por asfixia mecânica, provocada por afogamento. O corpo foi encontrado por bombeiros na manhã de ontem, na altura de Japeri.

Renato foi atacado após chegar a um ferro-velho ilegal na Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, onde havia encontrado material furtado de uma obra que fazia na região. Tinha ouvido a promessa de que tudo seria devolvido, mas acabou sofrendo uma emboscada dos militares — um deles é filho do dono do estabelecimento. Em depoimento prestado na delegacia do bairro, a 18ªDP, uma testemunha disse que o perito levou o último dos três tiros enquanto era colocado em uma van da Marinha. Parte da ação foi filmada.

— Uma testemunha percebeu que o último disparo foi no momento da entrada (do perito) na van da Marinha, e teria sido feito pelas costas — contou o delegado Adriano França, titular da 18ª DP.

De acordo com a Polícia Civil, um dos militares deu uma gravata no perito durante uma discussão. Após ser baleado, ele ainda foi agredido com chutes por Lourival Ferreira de Lima, dono do ferro-velho.

A Polícia Civil já descobriu que, após o perito ser jogado no Rio Guandu, os militares lavaram a van para tentar apagar vestígios do crime.

— Sabemos que, após transportar o perito baleado, os militares levaram a van da Marinha para um lava-jato de Austin, em Nova Iguaçu, onde usaram inclusive cloro. Depois, lavaram mais duas vezes o veículo — disse o delegado Antenor Lopes, diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital.

Os militares da Marinha Bruno Santos de Lima, Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta foram capturados. O primeiro é o filho de Lourival, que também está na cadeia. Ontem, durante a audiência de custódia, a Justiça decretou a prisão preventiva dos quatro. Eles respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

O juiz Rafael de Almeida Rezende destacou a violência do crime, os sinais de premeditação na hora de praticá-lo e afirmou: “Diante de todos os elementos informativos colhidos até o presente momento, em que pese o evidente protagonismo de Lourival e Bruno, há indícios da participação efetiva de todos os custodiados na prática do delito”. Ainda segundo a decisão, Renato, já baleado, ainda pediu para que os militares o levassem para um hospital.

O corpo foi encontrado a 500 metros de distância de uma ponte. Cerca de 30 bombeiros atuaram nas buscas. Um colega do policial se ajoelhou e chorou ao lado do cadáver. Parentes da vítima fizeram uma oração no local.

— A gente quer justiça. Que os culpados sejam punidos severamente. Meu irmão já tinha ido lá várias vezes. Eles armaram para matá-lo. Ele foi assassinado com a nota fiscal do material que lhe roubaram. Renato só procurou o que era dele, só foi rever o que estava lá, no ferro-velho ilegal. A última vez que estive com o meu irmão foi no Dia das Mães e ele disse que estava cheio de dívidas por conta dos roubos. Só quem é trabalhador sabe como está tudo caro — disse a fisioterapeuta Débora Couto de Mendonça, que reconheceu o corpo.

<< O último disparo foi no momento da entrada (do perito) na van da Marinha, pelas costas >> Adriano França delegado

<< Armaram para assasiná-lo, foi morto com a nota fiscal do material que lhe roubaram>> Débora Couto de Mendonça irmã de Renato

Vítima foi atacada ao ir a ferro-velho para recuperar material roubado de obra

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2022-05-17T07:00:00.0000000Z

2022-05-17T07:00:00.0000000Z

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