Extra Digital

Rio tem cada vez mais vazamentos de nudes

Polícia Civil registra ao menos um caso de foto íntima não autorizada por semana.

Paolla Serra paolla.serra@infoglobo.com.br

Em julho de 2014, Tífani Cristini Suppo da Silva, de 22 anos, teve o celular roubado ao sair de uma festa em Cachoeira de Macacu, na Região Metropolitana do Rio. Quatro meses depois, ela recebeu de um amigo, em seu novo aparelho, cinco fotos sensuais e nuas que havia tirado com o ex-namorado, com quem teve um relacionamento de oito anos. As imagens armazenadas na época pelo casal foram vazadas, e a jovem se desesperou e precisou do apoio da família. Em 2020, as delegacias do Estado do Rio somaram 43 casos de registros não autorizados da intimidade sexual — mais de um por semana.

— Eu me senti exposta, violada, invadida. Na hora, fiquei desesperada, não entendia por que, depois de tanto tempo, isso foi acontecer. Precisei escutar os conselhos dos meus amigos e parentes para tentar não me importar tanto para que aquilo não causasse ainda mais transtornos à minha vida. Foi muito difícil — relata.

Pela primeira vez, o Dossiê Mulher do Instituto de Segurança Pública (ISP) analisou o chamado registro não autorizado da intimidade sexual. Ele é

NAS REDES Segundo delegada, cresceu a ‘pornografia da vingança’: divulgação de material após término

um crime recente, previsto na Lei 13.772, de 19 de dezembro de 2018 (com pena de detenção de seis meses a um ano e multa), que reconheceu a violação da intimidade da mulher como violência doméstica e familiar e criminalizou o registro não autorizado de cenas de nudez ou ato sexual — qualquer produção, verdadeira ou não, com conteúdo sexual de caráter privado e íntimo sem autorização dos participantes. O relatório mostra que 90,7% dos registros em 2020 desse crime têm mulheres como vítimas, sendo dois terços desse percentual de solteiras. Em sua maioria, jovens brancas de 18 a 29 anos. Mais da metade aconteceu dentro de uma residência, e cerca de 30% dos autores eram companheiros ou ex.

Titular da Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam) de Duque de Caxias, a delegada Fernanda Fernandes explica que, ao procurarem a delegacia, as vítimas chegam com medo e vergonha. Muitas delas perdem os empregos, são repreendidas pelas famílias e até expulsas de suas atividades religiosas. Algumas passam a ser extorquidas virtualmente por pessoas que prometem não divulgar o conteúdo mediante pagamentos.

— Esse tipo de crime sempre aconteceu, mas, não tendo uma tipificação legal, fazíamos uma ginástica jurídica para indiciar quem o cometia por injúria ou difamação. Com a nova lei, vimos uma enxurrada de casos, também pelo aumento significativo da chamada pornografia da vingança, quando a vítima manda a foto para alguém durante um relacionamento, mas não consente que ele divulgue. Com o término, ele compartilha a imagem em redes sociais e aplicativos de mensagens. Então é preciso que fique claro que, a partir do momento em que se registra um nude, não há mais controle sobre esse arquivo, e a pessoa precisa ter consciência dos riscos.

O registro não autorizado é reconhecido como uma violência psicológica. No geral, esse tipo de violência se dá por meio de ameaça, constrangimento, humilhação, isolamento, manipulação, vigilâncias constantes, perseguição e violação de intimidade. E pode estar associado a diminuição da autoestima e prejuízos à saúde mental, gerando ansiedade e depressão que podem durar toda a vida.

PRIMEIRA PÁGINA

pt-br

2021-10-24T07:00:00.0000000Z

2021-10-24T07:00:00.0000000Z

https://extra-globo.pressreader.com/article/281698322952011

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.