Extra Digital

Paulo Freire necessário e atual

Especialistas debatem a relevância das lições do educador, cujo centenário foi celebrado ontem

Em homenagem ao centenário de Paulo Freire, celebrado ontem, especialistas discutiram o legado do educador pernambucano no debate “Paulo Freire no século 21”. Mais de 50 anos depois da publicação de “Pedagogia do oprimido”, sua obra decisiva, os educadores acreditam que seus pensamentos são muito relevantes neste momento e ainda serão no pós-pandemia.

A fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, Carolina Campos, afirmou que os pilares da filosofia de Freire serão fundamentais para a retomada das atividades presenciais, principalmente porque a pandemia afetou o processo de alfabetização das crianças.

— Após uma pandemia que assolou o planeta, talvez a gente só precise de mais humanidade. Acredito que precisamos muito mais de Paulo Freire agora do que se imaginava. É necessário colocá-lo no espaço devido de um humanista e educador. Uma pessoa que entendeu que primeiro a gente precisa comer e não passar fome, para depois conseguir estudar — explicou a pesquisadora, que lembrou o trabalho de alfabetização de jovens e adultos realizado por Paulo Freire na cidade de Angicos (RN), quando os alunos foram alfabetizados em 40 horas. — Eles passaram a entender quanto media o lote em que moravam, quanto custavam as verduras, quanto podiam gastar em relação ao que recebiam, o valor do salário. O método de Paulo Freire incomoda porque faz com que as pessoas reflitam sobre sua própria cidadania. Isso é a gênese da educação. Além da pandemia, o contexto é de desafios relacionados à política educacional defendida pelo governo. Mais um fator que reforça a relevância dos ensinamentos de Freire, disse Fabio Campos, educador e pesquisador da New York University, nos Estados Unidos.

— As ideias de Freire incomodam a escola tradicional da Zona Sul do Rio, a escola tradicional de Tucson, no Arizona, as universidades. Por que incomoda dizer que o aluno tem que se emancipar? Que a educação dele não é só para passar no vestibular? Que ele pode e deve ser capaz de ser crítico na escola? Será que a escola tem que ser sem partido apolítica ou neutra? É quando Paulo Freire “causa confusão” que vejo o quanto ele é atual — disse Campos, que defende que os professores debatam abertamente com os estudantes as questões sociais que chegam à sala de aula. — Freire falava que essa escola paralela deve entrar na escola tradicional. Acho que hoje é mais necessário dar ao aluno fluência crítica em relação às mídias e a essas escolas paralelas que entram na nossa escola. Para Carlos Rodrigues Brandão, antropólogo e professor da Unicamp, a estrutura arcaica enfrentada pelo educador na década de 60 se sofisticou.

— Se ele esbravejava contra uma educação bancária nos anos 1960, temos agora uma educação neocapitalista melhor armada e muito mais preparada — afirmou Brandão, que criticou o que enxerga no governo atual como “militarização que remete ao século 18”. — Do ponto de vista do capitalismo, não só a soja e o petróleo são mercadorias. A educação foi transformada em mercadoria de uma forma oficial.

EXTRA

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2021-09-20T07:00:00.0000000Z

2021-09-20T07:00:00.0000000Z

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