Extra Digital

Zezé Di Camargo e... ele mesmo

Isolado em sua fazenda, no interior de Goiás, Zezé Di Camargo registra seu primeiro projeto solo

Naiara Andrade naiara.andrade@extra.inf.br

Isolado em sua fazenda, sertanejo grava seu primeiro trabalho sem o irmão, Luciano.

Durante a pandemia, impossibilitado de fazer shows presenciais para grandes plateias, como estava acostumado ao lado do irmão Luciano, Zezé Di Camargo se recolheu. Deixou a vida agitada em São Paulo e partiu para a sua fazenda, chamada É o Amor, em Araguapaz, a 260km de Goiânia (GO). Lá, como o nome da cidade sugere, encontrou a tranquilidade e resgatou a convivência em família.

— Desde quando eu me casei (pela primeira vez, com Zilu), não tinha tido um contato tão intenso com meus pais. Além da companhia da Graciele (sua noiva), passei meses curtindo o meu pai (Francisco, que morreu em novembro do ano passado) e cuidando da minha mãe (Helena). Minha irmã Marlene também veio pra cá com a gente. Está gostoso, vai ser difícil me tirar daqui. Comecei a perceber como a vida é simples, a gente é que complica. Fica na correria dentro de carro e avião, de um lugar a outro... Não quero mais isso, não — desabafa Zezé, por chamada de WhatsApp, já que por lá não pega nem sinal de celular.

Construindo uma nova rotina a seu jeito e no seu próprio tempo, o sertanejo compôs muitas canções. E decidiu reunir algumas num EP, chamado “Rústico”, que ganhou registro audiovisual há uma semana, num espaço de eventos em Goiânia. O projeto, o primeiro solo, é em homenagem a Francisco.

— É tipo um sertanejo dos anos 90, bem ao gosto do meu pai. Esta fazenda era o lugar onde ele mais amava ficar. Estou dedicando este ano, meus momentos, meus pensamentos e minha música, tudo a ele. Até o meu jeito de cantar está voltando às origens — detalha Zezé, que em março já havia feito um primeiro tributo a seu Francisco com o lançamento de “Matuto”, cantada com a jovem dupla mineira Lorena & Rafaela: — Ele adorava ver as duas na internet. O sonho do meu pai era que elas viessem na fazenda cantar para ele. Mas, por causa da pandemia, ficou difícil... Depois que ele se foi, gravei com as irmãs em memória dele.

Luciano, desta vez, ficou de fora. Mas isso nada tem nada a ver com um possível fim da dupla, que neste 2021 completou 30 anos de carreira:

— Enquanto a gente não pode fazer shows, deixa ele lá em São Paulo, curtindo a vida dele com as filhas e a esposa, e eu fico aqui com o meu interior. Sem separação, mas numa relação aberta. Um descansa do outro, sem briga nem nada, só pra gente ver que existe vida além da parceria. Que pena que os casamentos não podem ter isso, né? As pessoas voltarem a se encontrar só quando sentirem saudade. Quando eu e Luciano nos reunirmos de novo, a vontade de duetar vai estar muito mais aguçada.

Enquanto isso, Zezé segue curtindo a vida no campo, onde não lhe faltam afazeres.

— Em fazenda, como o nome já diz, a gente está sempre fazendo. Aqui eu crio gado. E estou planejando uma horta grande. Minha mãe adora cultivar, e ainda precisamos comprar vegetais e legumes em Goiânia para consumo próprio. Então, quero produzir aqui pra gente comer e doar o que sobrar. Vai ser bom, terapêutico pra ela — adianta o cantor, que mantém o hábito de dormir tarde, herdado das noites de shows: — Antes das 3h, é muito difícil eu ir pra cama. À meianoite, estou superativo. Acordo às 10h e vou fazer minha musculação. Se começo a cantar e percebo que a voz está boa, corro pro meu estúdio caseiro e gravo. Não preciso mais pegar trânsito com esse objetivo.

Até nisso, Zezé inventou moda na pandemia...

— Tinha um cômodo aqui que eu usava como escritório. Tirei tudo de dentro e trouxe equipamentos de gravação: computador com sistema Pro Tools, microfone profissional... Para criar um ambiente em que o som não reverberasse, peguei uns colchões no quarto de hóspedes, empilhei um em cima do outro e fiz uma casinha acústica, onde eu canto no meio — conta ele, afirmando que o processo de composição não se alterou no período: — Eu componho por impulsão. Fazer música, pra mim, não é um exercício, mas um exorcismo. Preciso jogar para fora uma ideia, uma vontade. A fazenda não me inspira mais do que outros lugares. Quando estou aqui, quero mais é pensar em nada.

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2021-06-15T07:00:00.0000000Z

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