Rancho do Gonzagão, um pedacinho de Exu na Baixada

Parentes do Rei do Baião ainda moram no sítio em Santa Cruz da Serra que ele comprou na década de 1940

Marcos Nunes jnunes@extra.inf.br

2023-11-19T08:00:00.0000000Z

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CIDADE

▶ Num pedacinho de chão maior do que um quarteirão, rodeado de poucas árvores frutíferas e cinco residências, o próximo 13 de dezembro, Dia Nacional do Forró e data em que o cantor Luiz Gonzaga completaria 111 anos, vai ter gostinho de saudade. A propriedade é o que restou de uma área verde de um sítio, comprado pelo Rei do Baião, no fim da década de 1940, em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, para servir como moradia de seus pais e alguns parentes que vieram para o Rio de Janeiro. O local recebeu do cantor o apelido de Exuzinho da Baixada Fluminense. O nome é referência à terra natal de Gonzaga, nascido em 1912 na cidade de Exu, em Pernambuco. Gonzagão morreu no dia 2 de agosto de 1989, num hospital do Recife (PE). O cantor morou no Rio após alcançar o sucesso na época de ouro do rádio, cantando e tocando instrumentos como sanfona, zabumba e triângulo. Como nunca esqueceu suas origens, encontrou no sítio, a cerca de 40 quilômetros da Cidade Maravilhosa, um cantinho para se sentir mais perto de Exu. Lá, montou a casa de veraneio para onde ia sempre que podia. Para deixar o lugar mais familiar, Gonzagão chamou os pais, Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus, alguns irmãos e primos para morarem em casas construídas na propriedade. O sítio teve participação intensa na rotina do Rei do Baião: foi palco de ensaios, locação de cenas de um filme com a participação do músico, em 1970, e ponto de encontro de parentes para passeios, banquetes e novenas. Caçula de dez irmãos, Luiz Gonzaga deixou a cidade de Exu, em 1930, quando tinha 18 anos, por conta de um amor proibido, ao receber ameaças de um homem rico que não queria o envolvimento do rapaz com sua filha. Ao entrar para o Exército, viajou por vários estados, como Piauí e Minas Gerais. Após nove anos na caserna, deu baixa no Rio, em 1939, onde estourou como artista no início dos anos 1940. Pelo menos cinco núcleos familiares de parentes do cantor ainda moram na propriedade de Duque de Caxias. Segundo eles, Luiz Gonzaga também recebeu no sítio cantores como Gilberto Gil e compositores como Rildo Hora, este último compadre do Rei do Baião e coautor do samba Meninos da Mangueira, em parceria com Sérgio Cabral, pai do ex-governador Sérgio Cabral Filho. — Fui lá (no sítio) algumas vezes. Eu queria que minha filha visse o padrinho. Ele (Luiz Gonzaga) fazia assim: “Vai lá (no sítio)”, e dava o endereço de Santa Cruz da Serra. Um dia chegamos lá e ele tinha ido fazer um show em São Paulo. Ele veio de carro, estava sem dormir. Chegou e disse: “Vou fazer um show para minha afilhada”. Pegou a sanfona e cantou umas quatro músicas para ela. Minha filha Patrícia Hora era pequenininha, tinha 3 ou 4 anos — lembra Rildo.

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