Extra Digital

LIÇÃO CONTRA O RACISMO

Apesar da lei de 20 anos, ensino da cultura e da história africanas ainda depende de professores engajados

Geraldo Ribeiro geraldo.ribeiro@extra.inf.br

Na Escola Municipal O’Higgins, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, antes de começarem a estudar, os alunos do professor Moisés Machado passam por um espelho. Ao lado dele, um cartaz reforça o poder da palavra e incentiva os estudantes a repetirem para si frases motivacionais, como “Eu sou lindo (a)”, “Eu sou próspero (a)”, “Eu sou inteligente” e “Eu sou feliz”. Na sala, as referências à cultura, à história e a personagens negros estão por toda parte.

Num determinado momento da aula, o docente, que é negro, como a maioria dos estudantes, indaga: “Onde vocês veem mais pessoas parecidas com a gente, na Europa ou na África?”. Todos escolhem a segunda opção. Moisés

resolveu combater o racismo e aumentar a autoestima da turma fazendo com que as crianças, na faixa dos 10 anos, aprendam mais sobre a própria história com lições que aproximam a África do Brasil.

— É importante essa reconexão ancestral com a África, para que eles se compreendam como seres potentes e protagonistas de suas próprias histórias — diz o professor do ensino fundamental, que criou um alfabetário associando as letras às iniciais dos nomes de personalidades negras, como Abdias Nascimento, Glória Maria e Pelé.

ENSINO OBRIGATÓRIO

Moisés faz a diferença num universo onde a educação antirracista, obrigatória há 20 anos, ainda é, como se pode observar neste Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, exceção. Desde 2003, a Lei 10.639 obriga a inclusão nos currículos escolares do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira. Porém, segundo especialistas, as poucas iniciativas existentes partem de práticas isoladas de alguns professores.

— O Brasil, em termos do direito à diversidade, e aqui a gente está falando das étnicoraciais, tem uma das melhores legislações. O problema é a implementação e a prática

— afirma a professora Sônia Beatriz dos Santos, do Departamento de Ciências Sociais e Educação da Uerj.

Para ela, a necessidade desse tipo de ensino está explicitada no resultado de uma pesquisa realizada pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, (Ipec). A maior parte dos dois mil entrevistados (38%) disse ter sofrido racismo no ambiente escolar.

CIDADE

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2023-11-20T08:00:00.0000000Z

2023-11-20T08:00:00.0000000Z

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